quarta-feira, 1 de abril de 2009

saudade

um fala e cai.
outro toca e ri...
e tenho dito.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Descobri, por acaso, Laila. E, pá:

Ao acaso
Creio, copio, acuso,
corro, critico... Não me calo!
Crio caso!
Caso queiras, até caso.
Cobro carinhos
carícias
cuidados...
Curto a vida e
quando quero colo,
corro pra casa.

Um poema ligeiro - daqueles que te vencem por knockout - feito às bases do bom e velho estilo palavra-puxa-palava. Entretanto, é importante ressaltar que a falta de métrica e rima é compensada por esse vai-e-vem de sílabas num ritmo meio staccato e pela exploração das possibilidades semânticas da palavra caso.

Desenrolando-se por entre cês - creio, copio, acuso, corro, critico, calo (suspeito até que o calo tenha sido causado por tanta repetição), crio, caso e, ufa, etc. -, o ritmo, como dito, inicia-se truncado, em notas breves - criando caso? -, e se revela prestíssimo nos versos finais, correndo pra casa. Sua velocidade lembrou-me de Cacaso ("poesia rápida como a vida"):

Poesia
Eu não te escrevo
Eu te Vivo

E viva nós!

A musa (leia-se poesia) manhosamente inicia os versos. Cobra carinhos e carícias, faz-se de difícil, mas revela seu desejo: o colo de um bom leitor que a percorra com muito cuidado.

O blog: http://lailaco.blogspot.com/

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Uma linha torta no tecido da manhã

Sempre tive um dificuldade enorme de estudar prosa. Se me mandarem analisar um conto do Rosa, vou ficar ali, na frente do livro, estupefeito – sem um passo de palavra. Meus caminhos são sempre pelas letras poéticas, é ali que me divirto reconstruindo nos alicerces mais abastados.

Mas acabei alcançando alguma coisa de diferente quando encontrei essa prosa que, insisto depois de vocês falarem em poema (como falarão), tem enredo, personagem, narrador, tempo e espaço – e tudo isso debaixo de luzes espantosamente inebriantes. A grande questão é a fusão deles em cada linha:

O fruto
"Eu quero que esse momento dure a vida inteira
e além da vida ainda de manhã no outro dia"
Arnaldo Antunes
Seu gosto de maçã prosseguia, contudo maçãs não permanecem inteiras depois que se morde. Você, apesar de resistente a mordidas, se derrete em temperatura ambiente. Agora o gosto é de carne, carne viva, corpo vivo, carne sua, desde a sala até o céu, até onde vai o pensamento, sobre a grama do nosso jardim.Sob a luz do sol, o cheiro era de maçã, era de aconchego, era quente, era bom. Era como você, com você, por você.O som que dilacerava o silêncio era da sua voz, fossem palavras belas ou não. Palavras de maçã enlaçavam-me num beijo fatal.
-
De frente pro desafio, proponho:
- o narrador é uma primeira pessoa se dirigindo a nós, segunda;
- somos personagens, ora, de um monólogo;
- o espaço é alguma coisa em torno da maçã;
- o tempo é o (do) enredo, e o enredo é o tempo.

O fruto, pois, é o tempo furtado do Arnaldo: mas que amolece na boca de quem nos fala. Não satisfeito com a maçã, signo-mor desse torvelinho, vamos nós pra boca do sujeito; irônica, a mordida, agora, se desfaz em beijo – um assim, fatal, como todo fim de prosa, numa manhã que se quer maçã: concreta, barroca, abstrata.

Frutífera essa ruptura no silêncio maluco da prosa contemporânea – um lugar cheio de músicas e bagunças, mas sem som. Afinal, no liquidificador, tudo são palavras de maçã.
-
Era como você.
-
Fiquemos felizes, sim, sendo deglutidos.
-
(Principlamente no, pra dizer o mínimo, bacana http://hannebaby.blogspot.com/ - o blog da Hanne.)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Foco: sufogo

O nome é “incendiária das horas” e tudo o mais ou menos de Bandeira que há nela - o que nos deixa em dúvidas, sempre em dúvidas quando nos deparamos com um texto seu.

O furtado dessa vez, pois, é de lá. Seu nome, diga-se, acho que é “coisa”, pelo seguinte motivo: é um poema, parte primeira do que chamou-se de “Três”, mais adiante esclarecido como “Três coisas diferentes, vomitadas cada uma a seu turno” (guardem o vômito). A nós nos interessa, portanto, o primeiro turno: o em versos – sem métrica, com pouca rima e muita dor.

Citado o cânone, vale dizer que vontade de listar o quanto há do pernambucano em tais versos exclui-se logo aqui. A incendiária é ela, por si. Como nesses versos que me parecem ter gosto de arrependimento, que se quer farsa de destino:

-------Sufoco da vida escolhida
-------Se é que escolhida

Seria dor? Dor-doçura (“dói de doçura”) ou dor azeda ("ou de vinagre") então? São os braços da bolsa-vida; ou... não, é muito mais que isso, o poema é um tudo!

Pois então agora vem à tona mais uma vez a poeta, e querendo vomitar de novo para este espaço sideral. Mas o vômito vem pintado de um verde-botânico, ainda que sem flores: onde esperamos o revólver, vem o calmo coqueiro; e a poeta quer engolir o choro.

-------Alguém aceita selar esse segredo
-------que confesso gritando?

Depois dessa, de ouvidos dilacerados, sentidos de aliterações, seguimos pelo percurso-poema até termos os olhos feridos.

Queria o poema não ser visto?

Quem sabe... Para mim há muita coisa ocultada sob suas dezessete faces inevitavelmente drummondianas. Muita coisa ou nem – apenas alguém em casa comendo baratas.

Nasce a poesia

Ao percorrer o blog de Luiz Carlos Dalfior, pode-se perceber a mutação poética por que tem passado: de Stephen King à teoria da relatividade, não numa metamorfose kafkiana, mas num processo lento e gradual, sempre deixando acesa a sua influência romântica.
...........Em particular, destaco o metapoema "Rascunho":

Quero achar a solução para você, poema meu.
Mas você se acanha
e se esconde no
verso de cada folha.

A luta com a palavra, com o verso, é uma constante na vida dos que se enveredam pelas terras ermas da poesia. E Luiz Carlos, ao resolver poetar, chega ao dado momento da reflexão poética, do rebuscamento estético e da lapidação do conteúdo. Resultado: problemas à vista. Por conseqüência, surge o desgaste, o cansaço, o desapontamentoora, matéria para um metapoema (e tome trabalho!). Drummond, entre vários outros poemas, alertou:


Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No
entanto ele está dentro
inquieto, vivo.
Ele está dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira. ¹

No diálogo com o poema de Drummond, “Rascunhotambém trava uma batalha para, no caso, entrar no papel – a solução para o enigma (“poema meuouproblema meu”?) transforma-o numa espécie de poema-Esfinge. Decifra-me ou te devoro!
........... Contudo, a solução, por hora distante, acaba por se formar diante dos olhos do poeta; está germinando, posto que escondido no verso da folha. O metapoema-minuto desvendado mostra, enfim, seu corpo nu que acabou de nascer. Resta, pois, lapidar o verso escondido no verso da folha: é a hora lutar com as palavras.
...........Luiz Carlos luta luta sem alarmeeis que o poema forma-se. Mas atenção! Não se pode esquecer o que escreveu o poeta mineiro:

Lutar
com palavras
parece
sem fruto.
Não têm carne e sangue
Entretanto, luto

E então, quando chegar a hora da luta vã, ele perguntará: trouxeste a chave?

¹ "Poesia", Alguma Poesia.
² "O lutador" (fragmento), Poesias.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Abordoadas

Dei-me o direito de estar aqui – a quase inaugurar esta bodega –, e achei que um jeito bacana (ou aproveitador) de começar nossas abordagens era com o poema primo deste blog, da Natália de Azevedo:

-----diário de abordo I
-----um dia talvez...
-----ou três.

Sorrateiramente, lá nas origens, esse poema veio parar aqui direto das mãos da poeta. Vou lançar sobre ele um olhar vertical e unipolar – redutor, confesso.

Um diário de abordo, o Azulejos Assassinos é o próprio “diário de abordo I”, permito-me dizer.

-----Diário no que é pretendido. Finge-se ser feito dia a dia infatigavelmente então.
-----De abordagem, assim, em primeira pessoa – nem sempre do singular.
-----E um. Do singular para o plural, como ao cabo do poema.

Noves fora isso. Há mais algumas coisinhas a que destino merecido destaque: tem esse jeitinho rítmico de lidar com palavras, bailarineando; essa vontade de escrever com letra pequena (procedimento comum em se tratando de Natália); e o gosto, a princípio, efêmero, que sempre volta.

Com menos destaque, deu para ver uma vontade de dizer mais ali entre os três pontos das reticências e o ponto do fim. Três pontos emparelhados com "um dia" apontando para o fim, que na verdade, ou "talvez", viria em "três". E um ponto fazendo subir os olhos no corpo do poema, eroticamente – da mesma forma como um ponto está no meio de dois.

Enfim, isso tudo me deixou impressionista o bastante para dizer que... de verdade, gostei.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

diário de abordo I

um dia talvez...
ou três.