Ao percorrer o blog de Luiz Carlos Dalfior, pode-se perceber a mutação poética por que tem passado: de Stephen King à teoria da relatividade, não numa metamorfose kafkiana, mas num processo lento e gradual, sempre deixando acesa a sua influência romântica.
...........Em particular, destaco o metapoema "Rascunho":
Quero achar a solução para você, poema meu.
Mas você se acanha
e se esconde no verso de cada folha.
A luta com a palavra, com o verso, é uma constante na vida dos que se enveredam pelas terras ermas da poesia. E Luiz Carlos, ao resolver poetar, chega ao dado momento da reflexão poética, do rebuscamento estético e da lapidação do conteúdo. Resultado: problemas à vista. Por conseqüência, surge o desgaste, o cansaço, o desapontamento – ora, matéria para um metapoema (e tome trabalho!). Drummond, entre vários outros poemas, alertou:
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira. ¹
No diálogo com o poema de Drummond, “Rascunho” também trava uma batalha para, no caso, entrar no papel – a solução para o enigma (“poema meu” ou “problema meu”?) transforma-o numa espécie de poema-Esfinge. Decifra-me ou te devoro!
........... Contudo, a solução, por hora distante, acaba por se formar diante dos olhos do poeta; está germinando, posto que escondido no verso da folha. O metapoema-minuto desvendado mostra, enfim, seu corpo nu que acabou de nascer. Resta, pois, lapidar o verso escondido no verso da folha: é a hora lutar com as palavras.
...........Luiz Carlos luta luta sem alarme – eis que o poema forma-se. Mas atenção! Não se pode esquecer o que escreveu o poeta mineiro:
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue
Entretanto, luto.²
E então, quando chegar a hora da luta vã, ele perguntará: trouxeste a chave?
¹ "Poesia", Alguma Poesia.
² "O lutador" (fragmento), Poesias.
4 comentários:
Poesia é uma religião que nem sempre oferece salvação. Bem sei.
Nelson trouxe a chave.
Descreveu quase tudo que pensei quando escrevi esse poema.
Ficou muito bom mesmo. Gosto bastante de crítica literária, mas nunca tentei escrever uma.
Aquela parte que disse poema meu/ problema meu resume praticamente tudo quando da produção dos versos.
Parabéns, Nelson, e obrigado pela consideração de "me" colocar aqui neste azulejo. rs
Eu gosto de como o Luiz lê.
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